Há cerca de um ano publiquei no Jornal Alvorada um artigo de indignação após ter visto na TV o responsável da protecção civil da Câmara Municipal da Lourinhã culpabilizar as marés vivas (para além da forte precipitação) como a principal causa das cheias ocorridas naquela vila do oeste. Na altura, talvez despropositadamente, indiquei uma série de razões que potenciaram a catástrofe e medidas que reduzissem ou anulassem a possibilidade de tal voltar a acontecer.
Bom, estou outra vez indignado! Estando o inverno a chegar e a eventual forte precipitação poder causar mais danos, os dignissímos inquilinos da Câmara resolveram apresentar o caso ao INAG no sentido de se realizarem obras hidráulicas. Parece que não há dinheiro. O que dá muito jeito para desresponsabilizar os irresponsáveis políticos que mandam fazer barragemzinhas na foz do principal curso de água(?) do concelho. Para isso já há dinheiro e apostava que nem sequer falaram com o INAG...
Esta política de tiro no pé, a continuar, vai trazer mais problemas. Cada vez mais pois o espaço está cada vez mais ocupado por bens mais valiosos.
Esperemos que as Aguas do Oeste consigam resolver de uma vez por todas o problema da poluição e que não seja necessário tapar constantemente a foz do rio.
Já agora, os projectos para a Praia da A.B. parecem-me despropositados. Não se consegue travar o avanço do mar numa zona em constante erosão sem custos. E são nesses custos que as populações têm que pensar.
A ideia é simples: O mar está a avançar, e isto não tem nada a ver com alterações climatéricas ou actividade humana, mas porque o substrato não é rochoso. Tecnicamente são maioritariamente solos. Não têm resistência para resistir à força erosiva do mar. Neste contexto, podemos assumir taxas de de recuo médio da linha de costa de 3cm/ano. Inevitavelmente tudo o que não se puder mexer, está condenado a ser levado pelas águas. É uma questão de tempo, e a natureza tem todo o tempo do mundo. Podemos travar o avanço do mar com betão, mas o custo serão as praias. Desaparecem. E temos um exemplo debaixo dos nossos olhos. Construiram a muralha na praia, nos anos 60(não tenho a certeza), na altura a praia era enorme, mas tem vindo a reduzir-se ao longo dos anos, porque a muralha não tem rodas para andar para trás. A praia vai desaparecer em algumas dezenas de anos. Um exercício: qual o tamanho da praia no sécXIX. Certamente maior, ou pelo menos mais à frente. Difícil, não é?
O problema não está na natureza, mas na maneira como as suas paranóias nos afectam. E temos de entender isto sob pena de sermos sempre atingidos pela desgraça.